sábado, 17 de setembro de 2022

Pensei que jamais amaria da forma que hoje amo, idealizando a possibilidade de tais sentimentos apenas existirem em filmes e livros de forma exacerbada. Tantas vezes me enganei, forjando palpitares no peito para, quem sabe, usufruir uma fração do que sempre almejei encontrar. Finalmente estou onde pensei que jamais estaria e, estando, não sei o que fazer com meu corpo corrompido pela dor de um coração pequeno que não comporta tanto. Preciso gritar ao mundo, rasgar minhas vestes e me prostrar nua em frente à ela, devotando tudo que possuo, tudo que posso miudamente oferecer. Me julgo diminuta, incapaz de ofertar de volta a grandiosidade do que reside no meu peito. Camuflo tais fragilidades, tento não me permitir ser incapaz, quem sabe demonstrar pequenas parcelas pouco a pouco, juntas formando algo maior e merecido. Em tantos endereços esbarrei em histórias e personas, esmiucei a paixão ao largo, vivi intensamente o que poderia ter sido vivido dentro das minhas precárias vozes internas. Elas me diziam o que deveria ser feito e o fiz, me entreguei ao invisível, pois todos aqueles que disse amar, verdadeiramente não amei em completude, não vivenciei a concretude. Hoje é palpável dentro de mim, como se pudesse carregar em mãos esse gritante, traiçoeiro e muito honesto amor. Digo tais palavras pois me sinto desafiada pelo que pulsa em minhas veias, como morangos que a cada momento podem estragar. Cuido como se fossem bibelôs, os mais belos presentes já recebidos. Não há adornos e ornamentos que se sobrepõem ao que ela me deu ao adentrar meus dias. Hoje enxergo o passado como algo sem cor, todas as minhas antigas linhas gritam desesperadas que eu não estava lá! Veja! Eu corria contra o próprio tempo, implorando com sede pelo dia em que a receberia em minha residência. Disse à ela: quero ser teu lar. Sabe o que isso significa? Para mim é tudo de mais belo que posso retribuir. Ao me entregar o amor, ao despertar em mim o que sempre sonhei, ela me salvou. Mostrou à mim que sou sim capaz de ir contra a maré da desilusão. Tantas linhas minhas devotadas ao imaginário, é tão estranho viver finalmente. Me sinto viva. Apesar de muito fragilidade pelos acasos dos erros cometidos, não me desanimo. Sigo firme agarrada nas pontas desses lençóis do amor, encarando o que há de mais profundo e assustador nas águas do que ainda é desconhecido por mim. Nunca mergulhei, apenas banhei meus dedos precários nas ondas imprevisíveis, hoje sei. O oceano é tão vasto, tão cheio de possibilidades. Posso me dizer pronta, estou pronta! E meu corpo se dissolve em saliva e seiva, prontos para serem bebidos por ela. Quero ser consumida por completo, conhecida como ninguém jamais conheceu. Descoberta, entregue, ofertada como mimos. É tudo que tenho e minha imaginação voa longe, como se não precisássemos viajar para conhecer tudo que existe. Cada instante é o instante perfeito, cada vírgula pronunciada anuncia que o hoje jamais irá embora. Enquanto estivermos, enquanto formos, enquanto eu puder ser sua, tudo terei em mãos. 


Pensei tanto com o passar dos anos, agora essas peças se encaixam. Estava me construindo para ser perfeitamente encaixada no seu corpo. Não há palavras no meu vocabulário para narrar suas feições, seu sorriso, seus olhos, seu corpo completo. Pareço uma boba ao falar e devidamente devo ser, mas a paixão violenta, o amor tão puro - embora marcado - me fazem vê-la como a mulher mais bonita que já conheci. É única, meu presente dos Céus. Sei que sim, pedi tanto. Implorei de joelhos, chorei e me estraguei de diversas formas por não me compadecer aos demais que viviam o que invejava viver. Sinto medo também, não sei se é recorrente da possibilidade de perdê-la, mas sinto saudades a cada instante. Me sinto pronta para devotar meus segundos, constituir uma vida ao seu lado. Quem sabe o que o futuro nos reserva? Já li essa frase antes, me parecia tão tola. Agora entendo o idioma dos amantes. Admito também que fomos errantes, equivocadas fugimos daquilo que não há escapatória, as garras afiadas do Destino faz com que sejamos como ímãs que se atraem e grudam, quando digo que a amo, minha boca solta a própria língua e eu me desfaço, como se precisasse repetir centenas, milhares! de vezes que a amo, a amo, a amo.